A Azul Linhas Aéreas deu início a uma das etapas centrais de seu plano de reestruturação financeira ao lançar uma oferta pública primária de ações de até R$ 7,4 bilhões. Essa oferta foi estruturada para promover a conversão da dívida financeira em participação acionária.

A operação, que está sendo coordenada pelo UBS BB, ocorre após a aprovação, na sexta-feira, 12 de dezembro, do plano de recuperação da companhia aérea pela Justiça dos Estados Unidos, segundo fato relevante publicado após o fechamento do mercado na segunda-feira, 22 de dezembro.

Na primeira etapa, a Azul irá capitalizar de forma obrigatória dívidas referentes às sênior notes emitidas pela Azul Secured Finance, com vencimentos entre 2028 e 2030 e cupons que variam de 10,87% a 11,5% ao ano.

Os credores desses títulos receberão ações da companhia - inclusive na forma de ADRs - em substituição aos créditos, abrindo mão dos juros acumulados até a data de conversão.

Os detentores das notas estão organizados nas entidades Azul 1L Creditors Entity e Azul 2L Creditors Entity, ambas sediadas nas Ilhas Cayman, que passarão a figurar no capital da companhia após a conclusão da operação, com potencial impacto relevante na estrutura acionária.

Uma fonte a par das negociações disse ao NeoFeed que será uma diluição relevante para os acionistas e controladores atuais. Essa primeira etapa do plano deverá ser liquidada até 6 de janeiro.

A operação tende a deslocar o controle econômico da Azul para os credores, diluindo de forma significativa os atuais acionistas. Os credores ficarão com algo entre 70% e 90% do capital e os acionistas com 10% a 30%, dependendo do desenho final.

“Nessa primeira etapa, é troca de dívida. Depois, em uma segunda etapa, terá um aporte de capital na companhia. E isso vai desafogar a Azul”, diz essa fonte.

A oferta será dividida em duas frentes. A chamada oferta prioritária será destinada aos acionistas atuais da Azul, com subscrição em cestas mínimas de 1 milhão de ações ordinárias ou 10 mil ações preferenciais. Já a oferta institucional será voltada a investidores profissionais, respeitando os mesmos lotes-padrão.

O preço por lote foi fixado em R$ 135,2 milhões para ações ordinárias e R$ 101,4 milhões para ações preferenciais. Cada ação subscrita dará direito a um bônus gratuito de subscrição.

A conversão de dívida em ações é apenas uma das frentes do plano de reestruturação aprovado pela corte americana.

Segundo a companhia, o acordo envolve um reperfilamento amplo do passivo, com redução do endividamento financeiro, alongamento de prazos e reorganização da estrutura de capital, criando as condições para que a Azul encerre o processo de recuperação judicial em 2026.

O plano também preserva a continuidade operacional da companhia, mantém contratos estratégicos e dá previsibilidade à gestão, em um momento em que o setor aéreo ainda enfrenta desafios de custo, câmbio e financiamento.

Roteiro semelhante ao da Casas Bahia

A estratégia adotada pela Azul segue um movimento recente no mercado brasileiro. A Casas Bahia promoveu um reset financeiro ao combinar renegociação de dívidas, novas emissões e a conversão de passivos em instrumentos de capital, com o objetivo de reduzir alavancagem e ganhar fôlego operacional.

No caso da rede varejista, a troca de dívida por participação acionária foi parte de um redesenho mais amplo da estrutura financeira, permitindo alongar vencimentos, diminuir a pressão de caixa no curto prazo e criar espaço para a retomada do negócio.

Assim como agora ocorre com a Azul, o custo desse processo foi a diluição acionária, vista como um preço necessário para a sobrevivência e reorganização das companhias.

Apesar do processo de reestruturação financeira, a Azul segue com uma frota com mais de 200 aeronaves e atende mais de 150 destinos no Brasil, além de rotas internacionais, transportando cerca de 34 milhões de passageiros por ano.

Na B3, a ação AZUL4 acumula queda de 77,5% em 2025. O valor de mercado da Azul Linhas Aéreas é de R$ 728,5 milhões.

Relacionados

O interesse de Petrobras, Azul e Latam pelo aeroporto que fica ao lado do maior porto brasileiro

Pague Menos quer captar mais e avalia follow on de R$ 250 milhões

Em período turbulento, Azul tem vento favorável e ação voa 70% na semana