O Bitcoin registrou queda de aproximadamente 2% a 4% nas últimas 24 horas, negociando próximo a US$ 87 mil, estendendo uma sequência de quatro dias consecutivos de perdas. A criptomoeda acumula recuo de 30% desde o pico de outubro, refletindo pressões macroeconômicas globais e saídas recordes de fundos de investimento.
Segundo dados de mercado, os ETFs de Bitcoin registraram saídas de US$ 357,6 milhões — o maior volume desde 20 de novembro — sinalizando redução de confiança entre investidores institucionais. Os indicadores técnicos mostram as médias móveis de curto prazo (10 dias em US$ 89.215 e 20 dias em US$ 90.317) limitando recuperações, com suporte crítico em US$ 84 mil a US$ 85 mil.
Analistas alertam para risco de queda adicional abaixo de US$ 80 mil caso o suporte não seja mantido, com possível extensão até US$ 74 mil — nível que remete à baixa de abril de 2025, quando tarifas comerciais dos EUA desestabilizaram os mercados financeiros globais.
A pressão sobre o Bitcoin reflete um cenário macroeconômico mais amplo de incerteza. A Bolsa brasileira caiu 2,42% em sessão recente, com o dólar comercial subindo 0,73% para R$ 5,462 — o maior nível desde 10 de dezembro. A moeda americana acumula alta de 2,38% em dezembro, pressionada por indefinição sobre políticas de juros no Brasil e exterior.
Dados fortes de emprego nos EUA (64 mil vagas criadas) reduziram as chances de corte de juros pelo Federal Reserve em janeiro, mantendo o dólar forte e pressionando ativos de risco como criptomoedas e ações em mercados emergentes.
A economia da América Latina e Caribe crescerá apenas 2,4% em 2025 e 2,3% em 2026, segundo a Cepal, com baixo dinamismo devido à volatilidade comercial, restrições internas e recuperação lenta do emprego. O Brasil mantém projeção de PIB em 2,5%, enquanto México cai para 0,4% e Argentina cresce 4,3%.
Além das pressões macroeconômicas, a reconfiguração geopolítica entre EUA, China e Rússia está redefinindo as estruturas econômicas globais, com impactos diretos nos mercados de criptomoedas e ativos digitais.
Os EUA, sob a nova Estratégia de Segurança Nacional, enfatizam relações bilaterais em detrimento do multilateralismo, com possível afastamento de organizações como OMC, ONU e OTAN. A administração Trump impõe metas de 5% do PIB em gastos militares à OTAN e busca reduzir a presença chinesa na América Latina, priorizando acesso a recursos estratégicos como minerais críticos e terras raras.
A China, por sua vez, supera os EUA em comércio, produção de armamentos e controle de terras raras — controlando 60% da extração global e mais de 90% do processamento. Esses minerais são essenciais para microchips, baterias de veículos elétricos e medicamentos, tornando-se pontos críticos de tensão geopolítica.
Pequim responde às tarifas americanas com restrições de exportação, forçando negociações em igualdade. Analistas da Bloomberg recomendam que os EUA abandonem tentativas de “derrotar” a China, dada sua estabilidade e vantagens em setores estratégicos.
No contexto de tensões geopolíticas e pressões econômicas, a regulação de criptomoedas nos EUA enfrenta atrasos significativos. O Market Structure Bill (CLARITY Act), projeto central para ordenar o mercado cripto, teve votação do Senado adiada, atrasando decisões sobre alocação de poderes regulatórios entre SEC e CFTC.
A proposta daria à CFTC papel principal sobre a maioria das criptomoedas de mercado à vista e limitaria o escopo da SEC quanto ao que constitui um “título”. Esse adiamento frustrou parte da indústria cripto, que esperava avanços regulatórios mais substanciais em 2025.
Simultaneamente, a SEC debate o equilíbrio entre vigilância e privacidade, com líderes da agência destacando que blockchains podem facilitar monitoramento financeiro se regulados de forma ampla. Essa tensão entre transparência e privacidade reflete preocupações mais amplas sobre o papel das criptomoedas na economia global.
No Reino Unido, a FCA lançou consultas para estabelecer regras abrangentes, com objetivo de implementação escalonada até 2027. A regulação europeia continua avançando, com o MiCA (Markets in Crypto-Assets) em implantação progressiva.
A produção automóvel global pode cair 1,2% em 2026, segundo a Crédito y Caución, impactada por tarifas de 15% dos EUA sobre Japão, Coreia e UE, fraca demanda familiar e escassez de semicondutores. A transição para veículos elétricos avança lentamente, representando apenas 15,8% das matrículas na Europa nos primeiros 8 meses de 2025.
Os preços do petróleo recuaram ao menor patamar em sete meses, pressionados por expectativas de avanço em negociações entre Rússia e Ucrânia, sinalizando possível redução de tensões geopolíticas em um dos principais conflitos globais.
O cenário para os próximos meses permanece desafiador. A indústria cripto aguarda clareza regulatória nos EUA, enquanto os mercados globais navegam por incertezas macroeconômicas, tensões geopolíticas e reconfiguração de cadeias de suprimento.
Investidores monitoram atentamente os níveis de suporte do Bitcoin, com particular atenção aos US$ 84 mil a US$ 85 mil. Uma quebra desses níveis poderia desencadear vendas adicionais e levar a criptomoeda para patamares não vistos desde abril de 2025.
A convergência de fatores — pressões macroeconômicas, tensões geopolíticas, regulação incerta e contração em setores-chave — sugere que a volatilidade permanecerá elevada nos mercados de criptomoedas e ativos de risco em geral durante o restante de dezembro e início de 2026.


