Três meses depois de divulgar ao mercado um plano para separar sua operação em duas empresas listadas e independentes, a Kraft Heinz está colocando um novo ingrediente na mesa em sua preparação para esse processo.
A companhia de alimentos anunciou nesta terça-feira, 16 de dezembro, que Steve Cahillane assumirá como seu novo CEO, a partir de 1º de janeiro de 2026. O executivo irá substituir Carlos Abrams-Rivera, que atuará como consultor da empresa até 6 de março, como parte dessa passagem de bastão.
“Estou confiante de que a separação planejada acelerará a capacidade da empresa de competir e vencer no cenário atual e irá desbloquear a imensa oportunidade que temos pela frente. Estou ansioso para trabalhar com a equipe e escrevermos juntos esse próximo capítulo empolgante”, disse o novo CEO, em nota.
Cahillane também irá ocupar um assento no conselho de administração da Kraft Heinz. E, no desenrolar dessa trama, atuará como CEO da Global Taste Elevation Co., uma das empresas resultantes da cisão, que terá foco global e reunirá os negócios de molhos, maioneses e temperos, com marcas como Heinz e Philadelphia.
O grupo ressaltou a vasta experiência do executivo. Em uma das passagens que dialoga com o momento da Kraft Heinz, ele liderou a Kellogg Company na separação de seus negócios de cereais na América do Norte e no lançamento da Kellanova, fabricante de snacks de marcas como Pringles e Cheez-it.
Após essa transição, ele comandou a Kellanova por sete anos até a Mars Inc., gigante de doces dona de marcas como M&M’s e Snickers, anunciar a compra da operação, em dezembro de 2024, em um acordo de US$ 35,9 bilhões, que foi concluído em dezembro deste ano.
Com mais de 30 anos de atuação no setor, Cahillane tem ainda no currículo passagens como executivo do alto escalão de empresas como a varejista de saúde e bem-estar The Nature’s Bounty Co., a The Coca-Cola Company e a AB InBev, onde esteve por oito anos.
“Steve possui qualificações únicas para liderar essa organização rumo ao futuro e estamos muito satisfeitos por ele assumir o cargo de CEO. Sua trajetória e experiência no setor são incomparáveis e serão inestimáveis nessa nova etapa”, disse Miguel Patricio, presidente do board da Kraft Heinz.
Outras mudanças foram anunciadas juntamente com a chegada do novo CEO. Patricio deixará a presidência do conselho de administração, mas seguirá como membro do colegiado. Quem assume o posto é John T. Cahill, que, até então, era o vice-presidente do board.
Ao mesmo tempo, a Kraft Heinz informou que seu board irá iniciar uma busca global por um CEO para liderar a North American Grocery Co., a segunda empresa fruto dessa cisão e que será focada na América do Norte e em produtos de mercearia, com marcas como Oscar Mayer e Lunchables.
No comunicado, a companhia voltou a ressaltar que a separação das suas operações visa maximizar as capacidades e marcas do grupo, reduzindo a complexidade e permitindo que as duas novas empresas aloquem recursos de forma mais eficaz em suas respectivas prioridades estratégicas.
Segundo a Kraft Heinz, a separação proposta deverá ser isenta de impostos para a companhia e seus acionistas. E a previsão é de que essa cisão seja concluída integralmente no segundo semestre de 2026.
À parte dessas expectativas, o anúncio de hoje traz mudanças em relação ao plano originalmente divulgado há três meses. Na época, a empresa destacou que Abrams-Rivera, que estava como CEO do grupo desde o início de 2024, iria liderar a North American Grocery Co..
Ao mesmo tempo, a decisão pela cisão de suas operações vai na contramão do sonho alimentado por Warren Buffett e a gestora brasileira 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que, Em 2015, articularam a fusão da Kraft Foods com a Heinz.
A ambição do bilionário americano e do trio brasileiro era criar uma gigante global no mercado de alimentos, que ganharia tração justamente a partir da escala obtida com essa fusão. Na largada, a operação criou o quinto maior grupo global do setor, com receita somada de US$ 28 bilhões.
Esse sonho começou a ruir, porém, alguns anos depois, quando a Kraft Heinz passou a conviver com o enfraquecimento da demanda por alguns dos principais produtos do seu portfólio, muito em função da busca dos consumidores por produtos mais saudáveis.
Nessa direção e na tentativa de virar essa chave, o grupo começou a renovar parte do seu portfólio. Mas tem tido dificuldades para colher bons resultados desse movimento, especialmente pelo fato de seu leque extenso de ofertas – são quase 200 marcas sob o seu guarda-chuva.
Sob esse contexto, a empresa reportou um prejuízo líquido de US$ 6,4 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2025, revertendo o lucro de US$ 613 milhões apurado no mesmo intervalo, um ano antes. Nessa mesma base de comparação, a receita líquida recuou 3,5%, para US$ 18,5 bilhões.
Divulgados em outubro, juntamente com o balanço do terceiro trimestre, esses números foram acompanhados do anúncio da revisão do guidance da empresa para o consolidado do ano, em função da piora da confiança e da resistência dos consumidores ao aumento do preço dos alimentos.
Negociadas na Nasdaq, as ações da Kraft Heinz registravam ligeira alta de 0,84% por volta das 10h20 (horário local), dando à empresa um valor de mercado de US$ 29,2 bilhões. Os papéis da companhia acumulam, porém, uma desvalorização de 19,5% em 2025.

